“Um arranque positivo” é como Nuno Sardinha, gestor de projetos europeus de inovação da EMEL, classifica os primeiros meses de exploração do Gira, sistema público de bicicletas partilhadas de Lisboa, que se iniciou a 19 de setembro. Até final de 2017 “foram subscritos cerca de 2800 passes anuais e realizadas 40.000 viagens” acrescenta Frederico Henriques, o gestor do projeto GIRA da EMEL. O alargamento ao eixo central da cidade, a zonas como Alvalade, Avenidas Novas ou Saldanha permitiu um forte incremento na utilização. Já no início de 2018, o sistema chega ao Marquês de Pombal, com duas estações do GIRA, integradas na ilha da mobilidade do projeto Sharing Cities, da Lisboa E-Nova.
Nos primeiros meses de utilização, as bicicletas do GIRA confirmaram a vocação de “complementaridade do sistema” com a rede de transportes públicos. De acordo com Frederico Henriques tem-se verificado “um movimento pendular bem definido, com maior destaque nas horas de ponta da manhã e da tarde”.
Também se nota o caso de alguns residentes que se deslocam regularmente em bicicleta para os seus trabalhos em empresas dessa zona ou mesmo para ir ao supermercado fazer uma pequena compra.
O período de testes e a interação com os utilizadores desta fase beta experimental permitiram melhorias do projeto, designadamente no “tipo do selim e do cesto das bicicletas disponibilizadas”, explica Nuno Sardinha. A experiência acumulada, entretanto também com dados já do período de exploração, permitirá identificar “padrões de mobilidade”, que ajudam a controlar a disponibilidade de bicicletas nas estações do GIRA. “A cadência significativa de dados permite aos serviços estarem atentos às necessidades dos utilizadores. Há períodos com picos de utilização em que as estações não podem estar vazias.”
O GIRA é um sistema misto, com um terço de bicicletas clássicas e dois terços elétricas. O Parque das Nações é uma zona plana, e o sistema foi inicialmente planeado para “viver com clássicas.”
Mas as sete colinas e a necessidade de vencer muitos declives são velhos argumentos dos críticos da viabilidade do uso de bicicleta em Lisboa. O recurso às elétricas torna “o sistema mais democrático, não cansa”. De qualquer modo, a cidade entra nos sistemas de bicicletas partilhadas alinhada com os mais avançados sistemas internacionais, “para não se tornar obsoleto”. “É um sistema de 3ª geração, o mais recente”, diz o gestor de projetos europeus de inovação da EMEL.
O Parque das Nações foi escolhido para lançar o GIRA por ter uma população com potencial grande de aceitação de projeto. “É além disso uma zona plana que ajudava a vencer algumas questões relativas ao relevo. Tinha ciclovias, dava condições de segurança rodoviária para arrancar com tranquilidade”, avança Frederico Henriques, gestor do projeto GIRA da EMEL. “Para as bicicletas funcionarem de modo económico e operacional, há também um propósito de densidade. Tem de haver um número suficiente de estações do GIRA nas proximidades umas das outras para que o sistema funcione. Quero ir para um sítio e ter lá estações onde possa parar a bicicleta”, explica o gestor do projeto. Os critérios de escolha dos sítios das estações a criar são os “critérios de uma rede de transportes. As estações estão onde estão as pessoas e nos locais para onde querem ir, por exemplo, nos interfaces de transporte, nas zonas residenciais e nas zonas de emprego, comércio e serviços”.
O GIRA tem três modalidades de adesão. Duas delas, o Passe Anual (com um custo de 25 euros) e o Passe Mensal (15 euros) destinam-se apenas a residentes em Portugal. Ao contrário da generalidade dos sistemas europeus, afirma Sardinha, “o GIRA não exige qualquer caução aos residentes”. Os utilizadores pontuais não foram esquecidos e existe também um Passe Diário que é “principalmente destinado a turistas que passam por Lisboa ou para quem pretende experimentar o sistema”.
“Belém, por exemplo, é uma zona mais turística, os turistas originam muitas deslocações e não se queria exclui-los”, esclarece Nuno Sardinha. E ao mesmo tempo a compra de passes diários ”serve para ajudar a sustentar o projeto”. “De qualquer modo não é um rent a bike. É um sistema de partilha e não de posse”, esclarece o gestor de projetos europeus de inovação da EMEL.
Além de ser um produto de mobilidade sustentável, o GIRA é também uma aposta nos chamados sistemas de mobilidade suave, e está “em linha com modelos de outras grandes cidades europeias, como Madrid, Londres, Paris ou Milão”, vinca Nuno Sardinha. Contribui também para objetivos fixados no Acordo de Paris e para metas de carbono zero no centro da cidade em 2030. E isso implica “não levar o carro para o centro”.
“Existe necessidade de criar novos produtos, de atrair novos clientes para o transporte público.” Novas gerações, como os millenials, ilustra Nuno Sardinha, “têm uma maior interação com sistemas de partilha. Há tendências, restrições da própria União Europeia. O acesso aos centros da cidade vão apertar. Já existem ofertas privadas de car sharing e de scooter sharing”. Existem os transportes públicos e com o GIRA junta-se o Bike Sharing. “É uma mudança de paradigma assente na partilha”, conclui.
Nalguns aspetos, o GIRA apresenta soluções que não estão generalizadas a nível internacional. O desbloqueamento das bicicletas via aplicação de telemóvel “talvez seja pioneiro”, diz Nuno Sardinha. Mas a possibilidade de uma conta do GIRA associada com a conta ePark é um serviço de plataforma de mobilidade que se pode alargar a outras utilidades.
Associado ao projecto Sharing Cities está a ser trabalhado pela EMEL um projeto piloto de Park and Bike. A ideia é criar assinaturas especiais de estacionamento que permitam deixar o automóvel nos parques das zonas limítrofes, como o Campo Grande, e ir de bicicleta para o centro da cidade. O teste deverá decorrer em 2018.