Os transportes são responsáveis pela maior fatia de dióxido de carbono emitida em Lisboa, segundo dados da Matriz Energética da cidade publicada em 2016. As perto de 763 mil toneladas produzidas pelo sector representavam 40 por cento do total das emissões no ano de referência de 2014. É que ao contrário do que ocorre noutras áreas, os transportes estão ainda muito dependentes dos combustíveis fósseis. Entretanto, com movimentos cada vez mais fortes para pôr fim aos automóveis movidos a gasóleo e a gasolina, países como a França e o Reino Unido iniciaram já a contagem decrescente para substituir o parque automóvel por outro menos poluente. E algumas marcas automóveis já anunciaram que de futuro só irão fabricar carros híbridos e elétricos.
País anfitrião do Acordo de Paris (compromisso internacional para a redução de gases com efeito de estufa celebrado em dezembro de 2015, e até à data ratificado por 160 países dos 197 que fazem parte da Convenção), a França anunciou no início do mês de julho a vontade de proibir as vendas de automóveis com motor de combustão a partir de 2040. Duas semanas depois foi a vez do Reino Unido prometer também banir, até ao mesmo ano, a venda de viaturas a gasóleo e a gasolina e promover a progressiva mudança para veículos eléctricos e híbridos, de modo a reduzir as emissões de dióxido de carbono.
A medida anunciada pelo governo de Emmanuel Macron estará integrada num conjunto mais amplo de objetivos, de acordo com declarações feitas por Nicolas Hulot, ministro do Ambiente e da Transição Energética. O Executivo quer reduzir em um quarto as emissões de dióxido de Carbono até 2050, ano em que prevê que as emissões de carbono deixem de exceder o volume que pode ser absorvido pelas florestas. Este objetivo foi também anunciado pela Suécia e pela Costa Rica.
No Reino Unido, o Governo de Theresa May planeia descentralizar para a esfera municipal parte do esforço de combate aos automóveis a diesel e a gasolina. O Executivo britânico identificou um conjunto de mais de 80 estradas em 17 cidades onde as emissões ultrapassam as metas comunitárias. Uma das hipóteses de trabalho em cima da mesa é transferir mais competências para os municípios, a partir de 2020, de modo que tenham mais poder para impor restrições e combater a poluição.
Embora o anúncio do fim da venda de automóveis dependentes dos combustíveis fósseis constitua uma passagem concreta à ação dos dois países, o ano proposto é menos ambicioso do que os prazos sugeridos por outros países, designadamente pela Suécia, pela Alemanha, pelos Países Baixos ou pela extracomunitária Noruega.
Em outubro do ano passado, através da sua ministra do Ambiente, a Suécia defendera que em toda a União Europeia se proibisse a venda de viaturas a gasolina ou a diesel a partir de 2030. A data foi proposta na sequência de uma recomendação no mesmo sentido, feita no mês anterior pela segunda câmara legislativa alemã e enviada também à Comissão Europeia.
Embora sem carácter vinculativo, a recomendação do conselho federal alemão ganha outra importância quando se sabe que a Alemanha é o terceiro maior produtor mundial de automóveis. No documento enviado à Comissão Europeia, a câmara alemã pediu também a análise da eficiência dos impostos e contribuições dos estados-membros no que toca à promoção da mobilidade com emissões zero.
Os governos dos Países Baixos e Noruega serão, contudo, os que têm mais pressa e que pedem um prazo mais apertado para pôr fim à venda de automóveis com motor de combustão. Ambos os países apontaram ao ano de 2025, ou seja, um lapso temporal inferior a dez anos, como ponto limite da transição para uma mobilidade sustentável assente em fontes de energia renováveis. Na Noruega 40% das vendas de carros novos são elétricos, híbridos plug-in ou movidos a hidrogénio. Ainda antes do final de 2016 já tinha alcançado a marca dos 100 mil carros 100% elétricos. O empenho da Noruega na urgência em diminuir a produção de gases com efeito de estufa é vincado por um outro fator. Boa parte da riqueza norueguesa assenta na indústria petrolífera. Isto faz com que a aposta no fim dos automóveis movidos a gasóleo e a gasolina até 2025 tenha implicações na economia do país e obrigue a um esforço de transição mais delicado do que o de outros países.
Entretanto, são já vários os fabricantes de automóveis que aderiram ao movimento de descarbonização. A partir de 2008, com o início de produção do seu desportivo Roadster, a Tesla abriu um caminho de não retorno na produção e no mercado dos elétricos vocacionados para as classes médias.
No início do passado mês de julho, a nórdica Volvo anunciou também que a partir de 2019 todos os seus novos modelos serão híbridos ou elétricos, e pôs fim ao lançamento de viaturas exclusivamente movidas a gasóleo ou a gasolina. Lançará designadamente, entre 2019 e 2021, três modelos completamente elétricos e duas opções híbridas.
Ainda antes de fechar o mês, foi a vez dos norte-americanos da Cadillac anunciarem o seu plano de se juntarem aos suecos, mas só a partir da segunda metade da próxima década. Para já, continuará o foco nos SUV e alguns outros modelos da marca irão passar a estar disponíveis em versão elétrica.
De acordo com números da Agência Internacional de Energia, citados pela CNN, 95 por cento dos automóveis elétricos são vendidos em apenas dez países: França, Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Suécia, Noruega, Estados Unidos da América, Canadá, Japão e China.