Num inquérito sobre o desempenho térmico e a pobreza energética nos edifícios residenciais, os participantes residentes nas duas cidades afirmam que o frio e o calor excessivos no interior das suas habitações afetam negativamente a qualidade do sono, o estudo e o desempenho no teletrabalho, entre outros.
Em Lisboa, 54% dos inquiridos considera que passar frio ou calor em casa tem um impacto negativo no seu estado de saúde. No Porto, o efeito prejudicial do desconforto térmico é assumido por 49% dos respondentes. Estes estão entre os principais resultados das análises preliminares de um inquérito realizado pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa e pela AdEPorto – Agência de Energia do Porto.
O estudo focou-se em variáveis relacionadas com a pobreza energética, nomeadamente o grau de conforto térmico nas habitações, relacionando este indicador com a perceção de estado geral de saúde, a qualidade da construção dos edifícios e a fatura energética dos agregados domésticos. Foram também recolhidos dados sobre a literacia energética dos residentes de ambas as cidades.
O inquérito revela que cerca de 40% dos participantes residentes em Lisboa e no Porto admite desconforto em relação à temperatura em casa durante o inverno, embora a verdadeira extensão do problema possa ser maior. Mas não é apenas durante o inverno que os inquiridos sentem desconforto térmico na habitação. Em Lisboa, 32% dos respondentes diz-se igualmente desagradado com a temperatura em casa durante o verão. No Porto, a percentagem cai para os 23%.
Cerca de 59% dos inquiridos em Lisboa e 47% no Porto identificam alguma situação de ineficiência construtiva nas suas habitações. A infiltração excessiva de ar, pelas portas e janelas, a presença de humidade e o fraco isolamento térmico das paredes são os problemas mais apontados.
Questionados sobre literacia energética, 47% dos inquiridos em Lisboa diz-se informado sobre temas de energia e conforto térmico na habitação. No Porto, o valor cai para os 37%. Contudo, apurou-se que em ambas as cidades cerca de 70% dos inquiridos não sabe responder se a sua habitação está classificada energeticamente ou a que classe energética pertence. A classe C é a mais reportada em Lisboa, por quem tem este conhecimento, seguida da B. Já no Porto as classes A, B e C surgem identificadas com maior frequência.
Embora mais de 50% dos respondentes desconheça que haja fundos de apoio à realização de obras de renovação em casa, 80% dos inquiridos em Lisboa e 77% no Porto consideram importante a existência de gabinetes de aconselhamento público gratuito sobre energia e conforto térmico em casa.
Este estudo constitui um primeiro passo na caracterização e monitorização de variáveis relacionadas com o problema de pobreza energética e no conhecimento das perceções e experiências dos residentes na situação de inverno.
Os resultados do inquérito realizado serão importantes para o desenvolvimento de políticas públicas, locais e nacionais, orientadas para a mitigação deste problema que afeta a saúde e o orçamento das famílias portuguesas. Está já prevista para breve a realização de um inquérito para captar a situação de verão. Através desta iniciativa pioneira de ambas as Agências de Energia, pretende-se ainda consolidar uma abordagem sistemática bianual, e que possa futuramente englobar outras Agências na produção de dados que contribuam para o combate à pobreza energética a nível nacional.
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, recorda que, “na cidade de Lisboa, os edifícios representam 45% do consumo total de energia. São mais de 55.000 edifícios e cerca de 240.000 alojamentos. Parte deste grande parque edificado tem um fraco desempenho energético, afetando o conforto térmico dos seus utilizadores”. Por esta razão, avança, “Lisboa definiu a atenuação da pobreza energética como área de atuação prioritária, assente objetivos de suficiência energética, economia social e valores de solidariedade e confiança que estão no cerne do desígnio europeu de fornecer energia limpa, segura e acessível a todos os cidadãos da UE”.
A Norte, o Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, sublinha a “necessidade de conhecer a situação atual da habitação e pobreza energética no território como contributo importante para a elaboração de uma estratégia efetiva de combate a esta realidade, melhorando não só as condições de habitabilidade dos portuenses, mas também contribuindo para uma transição energética justa e positiva”. Projetos como o Porto Energy Hub, destaca, “são importantes no combate à pobreza energética e contribuirão decisivamente para o aumento da resiliência energética do território, tendo em vista alcançar a neutralidade carbónica em 2030, o grande compromisso inscrito no Pacto do Porto para o Clima que reúne já mais de 180 subscritores, entre os quais figuram algumas das maiores instituições e empresas da cidade e da região”.
O inquérito contou com a colaboração do ISAmb, Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e do ICS, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Foi realizado por telefone a uma amostra de residentes em Lisboa e Porto com 25 ou mais anos de idade. Ao todo, participaram 1.508 lisboetas e 1.201 portuenses. A base de dados foi ponderada por género, grupo etário e nível educacional, tendo sido consideradas válidas 1.476 respostas relativas a Lisboa e 1.166 ao Porto. Desta forma, a distribuição da amostra relativamente a estas caraterísticas sociodemográficas tornou-se muito similar à distribuição da população residentes em cada uma das cidades em estudo.
Os resultados do estudo estão disponíveis em https://pobrezaenergetica.pt/. A plataforma de visualização de resultados contou com o apoio da Associação Porto Digital.